Xodó dos baianos, Dulce é santa que mais batiza ruas de Salvador e já virou até apelido
Irmã Dulce tem ruas nos bairros de Brotas, Narandiba, Águas Claras, Cajazeiras 6, Nordeste de Amaralina, Mata Escura, Tancredo Neves e Areia Branca (Paula Fróes/CORREIO
De um total de 8.430 ruas em Salvador, 426 levam o nome de santas católicas. A mais citada dentre elas é Irmã Dulce, a Santa Dulce dos Pobres, que dá nome a oito ruas soteropolitanas. Reconhecida pelo seu papel nas Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), a santa completa, nesta quarta-feira (13), dois anos de canonizada. As ruas se localizam nos bairros de Brotas, Nordeste de Amaralina, Águas Claras, Narandiba, Cajazeiras 6, Areia Branca, Tancredo Neves e Mata Escura.
Para além das ruas, Dulce também está entre as primeiras posições na categoria logradouro, que engloba praças, largos, parques e outros espaços. Santa Dulce ocupa a quarta posição no ranking de santas que possuem logradouros públicos em sua homenagem na capital. Ao todo, ela tem 29 menções, sendo elas divididas entre duas praças, 14 travessas, quatro avenidas, uma vila e as oito ruas que a torna campeã na categoria.
Em primeiro lugar, está Santa Bárbara (com 40 logradouros) e, em seguidas, aparecem empatadas Santa Luzia e Santa Maria (ambas com 36 logradouros). – veja ranking completo no final da matéria. As informações são do levantamento do CORREIO feito com uma base de dados de mais de 21 mil linhas da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur).
Uma das oito ruas com o nome de Irmã Dulce em Salvador fica no Nordeste de Amaralina, perpendicular à principal do bairro, a Cristóvão Ferreira. Na esquina, tem a lanchonete Vivi Gourmet, que, quando reformou, tirou a placa que indica o nome da santa. Ela é sem saída e, segundo moradores, um local tranquilo, de família. Aos domingos, rola churrasquinho, dominó e baba. É nela também que, todos os dias, a partir das 18h, um grupo de amigos se reúne depois do trabalho para resenhar.
Dentre eles, está o devoto Evenato Rodrigues, que já conheceu Irmã Dulce pessoalmente e, inclusive, prestou serviço para as Osid, através de sua empresa de refrigeração, a 0 grau. “Conheci ela tem uns 20 anos e era uma pessoa maravilhosa. Criei muitos vínculos de amizade nas Obras Sociais, pelo trabalho, e minha mãe se internou lá, por ser hipertensa”, conta Rodrigues. Ele diz que faz doações regulares à instituição. Os outros também são católicos, mas o vínculo com a beata não passa de admiração.
Os moradores Edmilson Costa (de amarelo), Elenilton Fernandes (de branco) e Evenato Rodrigues (de vermelho) se reúnem todos os dias, final de tarde, na esquina da rua Irmã Dulce, no Nordeste de Amaralina. Crédito: Marcela Villar.
No bairro de brotas, a rua Irmã Dulce é residencial. A única exceção é o barzinho de Marcos Ruas, que fica aberto quase que 24h – das 9h às 15h e das 18h até o último ir embora. Segundo moradores, vários assaltos já ocorreram naquela rua, inclusive de carros, e sempre com armas. “Aqui você vai para qualquer lugar, desde o Vale das Pedrinhas a Vasco da Gama”, explica o empresário, que também mora em um dos prédios do logradouro.
Ele é mineiro e veio para a Bahia após o pai adoecer, há 22 anos. Apesar de não ter especificamente alguma relação com Irmã Dulce, tem uma imagem da Santa entre as caricaturas da parede. Segundo o empresário, alguns moradores querem criar uma capela com um monumento em homenagem à baiana, embaixo de uma mangueira. Enquanto a verba não é arrecadada, eles se contentam com o porta-retrato na parede.
Bar em Brotas, na rua de Irmã Dulce, tem imagem da santa na parede. Crédito: Marcela Villar.
Em Águas Claras, a rua Irmã Dulce traz boas e más memórias. Há quem guarde a lembrança de Maria do Nascimento Paim Alves, apelidada de Irmã Dulce, pelas ações de caridade que fazia na comunidade, mãe do motorista aposentado Wilson Paim Alves. Ele nunca viveu em outro lugar.
Antigamente, a rua era de barro e a casa da família era de palha. Mesmo sem cama para todo mundo, Maria colocava esteira no chão para acomodar quem precisava. “Minha mãe fez muita coisa boa. Ela não aguentava ver ninguém na rua que botava para dentro de casa, acolhia as pessoas sem nem conhecer. Aí botaram o apelido nela de Irmã Dulce”, conta Alves.
É tanto que Wilson tem cinco irmãos de sangue, mas mais de 50 de consideração espalhados por aí. A mãe trazia a comida que sobrava do trabalho, no matadouro, para alimentar os hóspedes. Antes da rua ser apelidada como Irmã Dulce – em homenagem à Santa e a Maria – a rua nem tinha nome. Ela morreu aos 79 anos, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Pau Miúdo, há cerca de 20 anos. Hoje, a rua é asfaltada e a casa de Wilson é de tijolo. Mas a placa da rua é improvisada, na porta da casa dele, feita a mão.
Wilson Paim Alves na porta de casa, com a foto da mãe, apelidada de Irmã Dulce. Crédito: Marcela Villar. |