bahia Coleção de prejuízos: moradores do Caji relatam drama com alagamentos constantes

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Quem mora na região do Caji, em Lauro de Freitas, tem encontrado outro obstáculo para sair de casa além das orientações de isolamento: a água.  Mesmo quem precisa sair para trabalhar, ou para uma compra essencial não consegue deixar a casa desde que o bairro foi tomado por um alagamento provocado pelas fortes chuvas. Moradores relatam que desde o dia 1º a água não seca completamente.

Moradora do Caji há 25 anos a diarista Marlene Lima, 52, conta que a chuva já trouxe a ela inúmeros prejuízos e que, mais uma vez, a deixa presa em casa. “Quantas vezes já perdi tudo, em alagamento aqui já fiquei com a roupa do corpo. Se  eu sair de casa agora a  água me cobre, como eu sou baixinha ia ficar coberta, pra poder sair tem que ser de barco, não dá pra sair”, conta ela. Segundo os vizinhos, no último alagamento, ocorrido no fim de abril, a água demorou cerca de oito dias para secar. Agora, há quase duas semanas ilhados, os moradores já veem a água passar de 1,5 metro de altura.

Os moradores acreditam que a situação piorou desde que novos condomínios residenciais e um novo shopping foram construídos na região. ““Sempre convivemos com enchente, mas desde que a cidade passou por obras, criou novos condomínios o shopping, piorou, porque aterrou muito o rio, e aí fica ainda mais difícil da água descer e a gente não vê ninguém fazer nada”, diz a diarista Alizete Francisca, 47, que há mais de 30 anos mora no bairro.

Justificativa

Questionada, a prefeitura de Lauro de Freitas justificou o agravamento da situação por conta da abertura de três barragens do rio Joanes, que passa pela cidade. Abertura das comportas no Rio Joanes agrava alagamentos em Lauro de Freitas

“Além da chuva que cai há duas semanas em Lauro de Freitas, o município também sofre, nos últimos dias com o grande volume de água que desce pelo Rio Joanes com a abertura das comportas em suas três barragens ao longo do seu curso. Com o Rio Joanes cheio, as águas rio Ipitanga, que fica num nível mais baixo, não descem o que contribui para o alagamento de algumas áreas”, disse a prefeitura em nota enviada ao CORREIO dizendo, ainda, que regiões como o Caji são diretamente influenciadas pelo Rio Ipitanga, e por isso sofrem com os alagamentos.

A prefeitura destacou também que vem realizando ações para tentar diminuir o impacto das chuvas e alagamentos, que seriam característicos já que o município é cortado por rios e córregos. “Vale ressaltar que o município, por estar abaixo do nível do mar e ser cortada por cinco rios e mais de 60 córregos, tem problemas históricos com a chuva apesar das ações realizadas pela gestão municipal e governo do estado. Um exemplo são os reservatórios do sistema de macrodrenagem, que apesar de não estarem totalmente concluído ainda, já acumulam mais de 1 milhão de metros cúbicos de água que estaria no curso do rio com consequências muito mais graves para a cidade”, finaliza a nota.

Gestão das águas

O geógrafo e professor do Instituto de Geociências (Igeo) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Marco Tomasoni, explica que certos pontos devem ser considerados no momento em que uma cidade se prepara para gerir seus recursos hídricos, mesmo quando ela é cortada por rios. “Existem muitas coisas que influenciam essa questão do planejamento urbano para a gestão dos recursos hídricos, do saneamento. Questões que podem estar ligadas às intervenções que foram feitas na cidade ao longo dos anos, como por exemplo, as ligadas a tubulações que podem ter sido mal dimensionadas. Uma tubulação de saída de água de rio pro mar, por exemplo, deve levar em conta vários dados, como a média de quantidade de chuvas”, explica.

No momento de calcular as tubulações e obras do sistema de escoamento algumas condutas podem acabar levando aos alagamentos como consequência. “Esse tipo de obra de tubulações, geralmente na hora de dimensionar, acaba não levando em conta picos máximos de chuva. O que acontece é que em períodos de fortes chuvas e marés você acaba tendo além da inundação, o alagamento que é essa dificuldade da vazão da água”, detalha o professor.

Tomasoni ainda destaca que, apesar de não conhecer os detalhes das construções realizadas em Lauro de Freitas, novas edificações perto de rios podem acabar gerando problemas de drenagem. “Pode realmente acontecer de construções liberadas muito próximas a rios acabarem por obstruir o caminho de passagem da água. Em Lauro de Freitas a gente tem condomínios mais a beira mar. Em construções assim as drenagens que são feitas, planejadas, não tem a capacidade de suprir a demanda desses momentos de maior precipitação. De qualquer forma não dá para colocar a culpa nas águas. É preciso olhar a liberação das construções em determinadas regiões”, finaliza.

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco

Fonte:Correio