Loja anunciava ‘Zara zerou’ em alto-falante como código para indicar presença de cliente ‘suspeito’ em Fortaleza, diz delegado-geral

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Loja que barrou mulher negra em Fortaleza alegando uso indevido de máscara recebeu pessoas brancas nas mesmas condições — Foto: Reprodução

Segundo Sérgio Pereira, clientes vigiados eram negros e com vestimentas simples. Tal informação foi resultado da apuração de caso de racismo cometido contra a delegada Ana Paula Barroso, impedida de permanecer na loja.

Por g1 CE

 

Vídeos mostram outras pessoas entrando com alimentos na loja da Zara em Fortaleza

 

O delegado-geral da Polícia Civil do Ceará, Sérgio Pereira dos Santos, afirmou, nesta terça-feira (19), que a loja Zara usava o código sonoro “Zara zerou” nos alto-falantes internos para indicar aos funcionários quais clientes deveriam ser vistos como “suspeitos em potencial”. Conforme ele, essas pessoas eram negras e usavam vestimentas simples para entrar no estabelecimento comercial.

A informação é fruto de uma investigação aberta pela Polícia Civil para apurar crime de racismo cometido contra a delegada Ana Paula Barroso, diretora-adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis, que foi barrada ao entrar na loja em setembro. A Polícia Civil indiciou o gerente da Zara, Bruno Filipe Simões Antônio, de 32 anos, por racismo.

Em nota enviada nesta terça-feira (19), a Zara havia afirmado que a abordagem não foi motivada por questão racial, mas por causa de protocolos de saúde. Informou ainda que “não tolera nenhum tipo de discriminação” (veja resposta completa abaixo).

De acordo com o delegado-geral, a Polícia Civil identificou uma ex-funcionária da loja que explicou como se dava o procedimento. Ela informou aos investigadores que “a loja, quando identificava que uma pessoa estava fora do padrão de cliente e estava ingressando naquele estabelecimento, era dito no sistema de som a frase ‘Zara zerou’“.

“Isso era um comando que era dado pra que todos os funcionários da loja ou pelo menos alguns a partir de então começassem a observar aquela pessoa não mais como consumidor, mas como suspeito em potencial que precisava ser mantido sob vigilância da loja”, afirma Sérgio Pereira.

Segundo ele, as questões de segurança implementadas pelo estabelecimento reforçavam novamente o caráter discriminatório já utilizado contra a delegada Ana Paula Barroso. “Quem eram essas pessoas? Eram pessoas que estavam com vestimentas mais simples e pessoas de pele escura”, explicou.

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Indiciamento do gerente

Conforme o inquérito da Polícia Civil, Ana Paula teve um tratamento diferenciado em relação a outros clientes que entraram no mesmo local sem usar máscara de proteção, mesmo sem estar se alimentando.

Loja que barrou mulher negra em Fortaleza alegando uso indevido de máscara recebeu pessoas brancas nas mesmas condições — Foto: Reprodução

“O material visual obtido por meio do circuito interno da loja revela o tratamento diferenciado dado pelo funcionário da loja à vítima. Nas imagens, é possível ver quando a vítima é expulsa do local, quando minutos antes, o mesmo funcionário atendeu uma cliente que, mesmo não consumindo nenhum alimento, não fazia o uso correto da máscara. A cena foi observada em outras situações onde outros clientes também não foram retirados da loja ou abordados para que utilizassem a máscara de forma correta”, informou a Polícia Civil.

G1 bahia